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Juventude: Cultura e Globalização

Juventude e Cultura

CONTINUAÇÃO DO MÓDULO ANTERIOR

JUVENTUDE E CULTURA

Nesta etapa do Percurso Socioeducativo III, incentivamos os jovens a explorarem o espaço em que residem, motivando investigações acerca das condições globais da região, as quais contribuirão para um engajamento ativo e reformador. Nosso objetivo é amalgamar saberes relativos à cultura, direitos humanos e assistência social, atividades esportivas e de entretenimento, questões ambientais, saúde e emprego, adotando a visão de refletir de maneira abrangente enquanto promovemos ações pontuais e significativas no âmbito local.

O principal desafio que mobiliza e se coloca diante do Coletivo de Jovens é a consolidação de novas configurações culturais, as quais têm o poder de fomentar conhecimentos aplicáveis, incentivando os jovens a contribuir ativamente na implementação das transformações essenciais para suas comunidades. Iniciativas que chamam para a convivência cívica e para uma participação democrática efetiva, apreciando o singular e o regional, sem desconsiderar a perspectiva global.

1. Culturas e globalização: o que significa ser um brasileiro ou uma brasileira no contexto da globalização?

O propósito desta seção é estimular a experiência dos jovens no espaço local e fomentar iniciativas de investigação acerca das condições amplas da região, que ofereçam fundamentos para uma atuação colaborativa e reformadora.

Você notou que vem compartilhando experiências com seu grupo do Projovem há seis meses ou mais? Durante esse período, além de desenvolver a habilidade de conviver em comunidade, acumularam saberes e vivências que desvendam traços distintivos do local, tanto através da contemporaneidade quanto do passado histórico.

Uniram-se na busca por incentivos que fomentassem a união e a inquirição. Desenvolveram a habilidade de expressar experiências que, até então, pareciam confinadas aos contornos de suas existências físicas. Adquiriram maior compreensão acerca do que significa “ser jovem”, “ser brasileiro” e “ser integrante de uma sociedade global”, além de aprenderem a importância de zelar mais por si mesmos e pelo meio ambiente e patrimônio cultural à sua volta. Chegou o momento de assegurar a perpetuação desse desenvolvimento. É essencial atuar para que essa percepção crítica, oriunda da aprendizagem interativa e das empatias despertas, se converta em direitos estabelecidos para sua comunidade.

Neste terceiro itinerário de aprendizado socioeducativo, nossos pontos de enfoque são os direitos humanos e a assistência social, o universo laboral e a preservação ambiental. Assim, é tempo de expandir nossa "cartografia cultural", conscientes de que, não importa quão reduzido seja o território que habitamos no Brasil, ele encontra-se inserido no globo terrestre e somos integrantes de uma sociedade mundial. Cultivar a preservação em âmbito local e exercitar o pensamento crítico sobre questões globais são posturas essenciais para assegurar direitos de cidadania. O desafio proposto por este trajeto socioeducativo consiste em refletir acerca de formas de inclusão social que mantenham intactas as identidades locais.

As experiências vividas ao explorar diferentes territórios e os saberes estruturados a partir de estudos contribuirão para definir as características dos locais. Será dada atenção especial à revisitação dos espaços culturais formais e não formais da região, enfatizando aqueles que apresentam expressões do patrimônio cultural tangível e intangível, as ferramentas de comunicação existentes (jornais, rádio, televisão, Internet) e os métodos empregados para promover os pontos de interesse cultural. A sociedade, com suas variadas comunidades, se desdobrará diante do grupo de pesquisadores, apresentando suas potencialidades e restrições como uma entidade social dinâmica.

Esses "atlas culturais", tomando a forma das regiões que ocupamos em nosso dia a dia, servem como excelentes orientadores para a cidadania, visto que permitem avaliar se os nossos direitos políticos, sociais e culturais estão sendo respeitados. A cultura, como um caminho para a interação social e para a compreensão do universo em que vivemos, se estabelece como um direito consagrado das comunidades, além de fornecer a base para o suporte de reflexões e atuações. Dessa forma, contribuirá para a criação de outros mapas locais, referências de espaços dedicados ao suporte social, à educação, à criação de oportunidades econômicas e de trabalho, à garantia de acesso à saúde, a um ambiente ecologicamente equilibrado e à preservação dos heranças culturais.

Essa análise detalhada das circunstâncias abrangentes do local funciona como um diagnóstico social aprofundado, essencial para o aprimoramento da atuação colaborativa no derradeiro Trajeto Socioeducativo. Deste modo, ambientes concretos e psicológicos serão restabelecidos como uma prerrogativa civil alcançada graças à inventividade, esforço e união de todos os segmentos sociais.

Uma visão geral

O Trajeto Socioeducativo se inicia com um elemento primordial para o Grupo: compreender a conjuntura global contemporânea e discernir o seu papel nela, destacando, em especial, o significado de ser brasileiro em um cenário mundial que se renova incessantemente. É vital realçar o ritmo acelerado com que o tempo progride e a redução das barreiras espaciais em escala global, assim como a relevância de conceber o Brasil para além de uma concepção simplista ou de uma imagem estereotipada. A expressão pode ser acessível, contudo cabe ressaltar que esses assuntos são intrincados e nada está posto de maneira trivial; há sempre algo novo a ser assimilado e a necessidade de contínuo aprendizado diante das transformações perenes.

O conceito de globalização refere-se à...uma comunidade confrontada pela expansão mundial da economia, pelos dilemas da fome, da indigência, pelas influências da tradição, pela inovação e pela era pós-moderna, pelo despotismo, pela governança democrática, pela brutalidade, pela ausência de punição, pelo escárnio, pela indiferença, pelo desalento, e ainda assim, pelo otimismo. (...) Nossa jornada terrena não está traçada de antemão, nem fixada de forma imutável. O 'destino' não é uma constante imutável, mas algo a ser construído, e da qual não podemos nos esquivar da responsabilidade.

Visualize-se assistindo a um programa televisivo e perceba um rapaz de uma nação longínqua apreciando a mesma melodia que ecoa em seus fones. A composição pode ser entoada em um idioma diferente, contudo, o gênero e o compasso são idênticos aos que você está habituado. E não causaria admiração se tanto você quanto esse indivíduo descobrissem essa canção praticamente no mesmo instante, por meio da TV ou da Internet. A era da globalização diminui distâncias e comprime o fluxo do tempo.

A globalização constitui um tema que frequentemente desencadeia debates acalorados. Uma parcela expressiva se entusiasma ante a oportunidade de ampliar e acelerar seu conhecimento sobre eventos globais, enquanto outros focam no potencial lucrativo dessa interconexão. Por outro lado, muitos expressam preocupação com a preservação das singularidades regionais e a riqueza das distintas culturas.

Como as culturas se posicionam diante do fenômeno da globalização? Aqueles que possuem curiosidade e uma perspectiva ampla enxergam na globalização uma chance de explorar novos horizontes culturais. Contudo, é necessário adotar um papel proativo e consciente na busca por essas novas experiências culturais. Aqueles que carecem de reconhecimento da riqueza de sua cultura ancestral podem ficar encantados apenas pelas ofertas tecnológicas e vantagens econômicas de culturas consideradas mais "desenvolvidas", podendo levar a uma interpretação deturpada das demais culturas e, no pior dos cenários, a uma subvalorização da sua própria herança cultural.

A essência de ser brasileiro na era da globalização

Viver como um cidadão brasileiro implica em ter plena consciência da representação do Brasil que propagamos globalmente, abrangendo tanto aspectos positivos quanto negativos. Contudo, é essencial reconhecer que para nós, residentes deste país, o Brasil transcende essa representação. Ele é nosso lar, e, consequentemente, muito da nossa própria essência é reflexo dele, assim como sua identidade é moldada por nossas ações. Por isso, não basta apenas ter ciência desta imagem como quem observa de fora, mas sim compreender em profundidade os atributos e desafios do nosso contexto de vida.

O significado de juventude no contexto da globalização

Desprovida de imaginação, nossa habilidade de sonhar despenca encosta abaixo, sem qualquer obstáculo que a molde ou direcione. Na ausência da imaginação, falhamos em nos colocar na posição alheia, em ousar compartilhar suas sensações, em aventurarmo-nos a assumir suas perspectivas. Privados da imaginação, nossa aptidão para brincar, observar e experienciar o mundo torna-se restringida, perdendo a potência de elevar-se. Limitamo-nos a enxergar apenas o visível; o fascinante reside na capacidade de perceber além do que é imediatamente perceptível.

A interconexão global frequentemente nos proporciona uma experiência onde diversos aspectos se tornam curiosamente reconhecíveis, mesmo quando têm origem em recantos insólitos e até então anônimos. Não se surpreenda caso um adolescente africano vista uma calça idêntica à sua, ou se um europeu se movimente ao ritmo de uma dança similar, se um japonês se encante por uma figura de ficção que também lhe agrada ou se um norte-americano se encontre com amigos ao ar livre para conversar, empregando termos que, embora em outra língua, se assemelham aos que você utiliza. No entanto, não se espante se esses mesmos jovens celebrarem eventos folclóricos utilizando indumentárias que lhe pareçam totalmente alheias, saborearem alimentos que nunca cogitou degustar ou dançarem de maneira que lhe pareça inusitada. A globalização possibilita essa dualidade: uma pessoa pode ser "internacional" em um instante e "local" em outro, preservar sua cultura ancestral e, simultaneamente, interagir com influências externas. Os jovens, em especial, experienciam essa dinâmica de maneira muito acentuada.

Será que uma cultura juvenil permeia o mundo globalizado? Pode-se argumentar que, dentre as culturas que verdadeiramente atravessaram fronteiras, a cultura jovem se destaca como a mais universal. A juventude se caracteriza por sua abertura e fascinação pelo inusitado e pelo diverso, trazendo consigo oportunidades e perigos associados. Os jovens não só garimpam músicas na internet com destreza, como também estabelecem amizades virtuais de maneira mais ágil e tecem redes sociais baseadas em interesses compartilhados.

Freqüentemente, tais redes sociais se originam limitadas a conhecidos de uma determinada localidade ou região, contudo, não existe nenhum impedimento para que um membro permaneça ativo mesmo se deslocando para outra parte do país ou do planeta. Ademais, esse "nômade" que se instalou em outra região tem a liberdade de convidar novos integrantes que compartilhem seu idioma, ou mesmo um diferente, para se juntarem ao seu círculo. Auxiliar na assimilação de novos idiomas é uma vantagem que os jovens podem aproveitar dos vínculos estabelecidos por meio da Internet. A rede evolui para um entrelaçado social intangível, entretanto, capaz de fomentar a proteção dos direitos humanos e a multiplicidade cultural.

Muitos adolescentes tomam a iniciativa de conectar-se com comunidades ao redor do globo que lidam com adversidades similares. Contudo, lamentavelmente, persistem aqueles que se enclausuram em suas intolerâncias, enxergando "o estranho" como uma ameaça latente, um oponente imaginário, e rejeitam a oportunidade de se familiarizar com pessoas e contextos distintos.

ATIVIDADE 1 – Variedade cultural e globalização: a maneira de "ser brasileiro"

Debate: Escuta da canção “Enquanto isso” e análise visual dos dançarinos executando movimentos variados (sincronizados e descoordenados).

Sugestões de perguntas direcionadas a seguir:

1) Como a música e a imagem se associam à temática da diversidade cultural e ao fenômeno da globalização?

A diversidade cultural na minha região manifesta-se de diversas formas.

Como a globalização se manifesta na minha área?

4) De que forma a diversidade cultural e o fenômeno da globalização se manifestam no Coletivo do Projovem ao qual estou integrado?

2. Cultura, direitos humanos e diversidade cultural no mundo globalizado

Colaborar na fusão de saberes acerca dos direitos humanos, direito à assistência social, esfera laboral, e questões ambientais e de saúde, adotando a visão de refletir globalmente e atuar localmente.

Consoante o enunciado pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Organização das Nações Unidas: “Todos os seres humanos vêm ao mundo com liberdade e igualdade no que tange à dignidade e aos direitos. Providos de raciocínio e consciência, devem conduzir-se mutuamente sob uma atmosfera de fraternidade”.

A concepção de direitos humanos emergiu de um processo gradual de desenvolvimento. Historicamente, em diversas nações, direitos que agora são concedidos a todos os cidadãos eram inicialmente limitados a homens pertencentes a estratos sociais e étnicos privilegiados. A universalidade dos direitos é reconhecida quando uma sociedade aceita a igualdade jurídica de todos os seus membros e concorda que merecem dignidade e um tratamento equitativo e respeitoso. Entretanto, a grande questão reside em como instituir direitos humanos globalmente, ao mesmo tempo em que se respeita a pluralidade de valores culturais distintos entre os povos.

A problemática da pluralidade cultural e dos direitos fundamentais se alinha ao repúdio à xenofobia, que é o sentimento negativo em relação ao que é externo ou possui uma procedência distinta. Persiste a dificuldade de impor visões externas a outras nações. Contudo, em todas as sociedades existem múltiplas perspectivas e a compreensão de realidades diversas frequentemente provoca o reexame de práticas consagradas, em particular aquelas injustas, como a situação das mulheres em determinadas regiões.

Assim, o conhecimento e valorização da cultura própria podem ser um alicerce para o desenvolvimento comunitário. Estar ciente da cultura local, aliado ao entendimento das oportunidades oferecidas pela globalização, facilita o reconhecimento das singularidades internas à comunidade e a comparação destas com outras culturas. Tal perspectiva é um ponto de partida para a resolução de desavenças dentro da comunidade e até mesmo no trato com indivíduos externos. Propagar a noção de que a diversidade cultural merece respeito e que todas as culturas têm ensinamentos a compartilhar é um dos generosos ensinamentos que a era global nos proporciona.

“A participação do ser humano em sua própria história, na esfera social e na alteração do mundo só se efetiva quando ele é auxiliado a perceber a realidade e seu potencial de transformá-la. (...) Lutar contra entidades obscuras que não são compreendidas, cujo impacto é ignorado e cujas nuances não estão claras é inconcebível; (...) Isso se aplica tanto às forças naturais (...) quanto às sociais (...). Modificar a realidade só se torna possível quando se reconhece que ela é passível de mudança e que é o indivíduo quem tem esse poder.” FREIRE, Paulo. A mensagem de Paulo Freire: textos de Paulo Freire selecionados pelo INODEP. São Paulo, Nova Crítica, 1977. p. 48.

ATIVIDADE 2 – Levantamento dos Nossos Domínios

Neste estágio, é o momento de congregar os jovens com o propósito de expandir as investigações exploratórias na região. Instrua-os de que o propósito central consiste na criação de um levantamento que identifique as potencialidades e as restrições presentes no ambiente em que residem. A atividade envolverá múltiplas fases de planejamento para a pesquisa, envolvendo o levantamento cartográfico do território, organização dos elementos mais significativos, tanto positivos quanto negativos, e a composição de correspondências endereçadas ao poder municipal, requerendo esclarecimentos e soluções para as adversidades identificadas. Comunique ao coletivo que todos os passos têm como finalidade a expansão do saber acerca do lugar onde vivem e o emprego dos meios apropriados (das esferas governamentais) para assegurar os direitos da comunidade.

• Destaque a importância de gerar conhecimento acerca da realidade local e como isso pode ser benéfico para solucionar questões cotidianas, tais como estabelecer serviços em uma biblioteca ou criar um centro de informática sem custos.

• Incentive o interesse e a valorização do trabalho coletivo, ressaltando que ações conjuntas, embasadas em conhecimento, superam iniciativas solitárias;

• Incentive a análise dos ambientes em diferentes períodos do dia e as conversas com indivíduos que habitualmente os frequentam, em especial aqueles que testemunharam as mudanças ocorridas ao longo dos anos;

• Revisite os métodos para observar e elaborar os registros preliminares dos aparelhos e atividades culturais efetuados na jornada educativa anterior.

4.5. Juventude, Esporte e Recreação

Ao longo desta jornada, o grupo de jovens será incentivado a explorar os recursos disponíveis, tanto públicos quanto privados, relacionados ao esporte e entretenimento na localidade onde residem e no âmbito municipal, facilitando o engajamento em diferentes atividades esportivas. Agora, com o objetivo de adquirir uma visão mais aprofundada, esses jovens intensificarão a pesquisa em torno dos equipamentos e serviços de esporte e lazer presentes em seu bairro e na cidade, retomando e expandindo a exploração iniciada durante o Percurso Socioeducativo I.

Sob a orientação e as referências provindas do Orientador Social e do Facilitador de Oficinas, os jovens realizarão visitas de campo para observar a localização dos equipamentos, analisar suas condições de conservação e operação, verificar a acessibilidade para o público jovem e avaliar se, de fato, são proporcionadas à comunidade local opções de atividades esportivas e de ocupação do tempo ocioso.

1. Infraestruturas para Recreação e Atividades Esportivas

Este segmento possui metas definidas: a) evidenciar aos mais jovens a relevância de áreas de diversão e atividades físicas em sua comunidade e zona residencial, fundamentais para o enriquecimento das experiências durante momentos de ócio; b) fomentar um entendimento ponderado e crítico a respeito da vivência do direito ao entretenimento no ambiente local; c) realizar junto aos jovens um levantamento dos locais e infraestruturas de lazer e esporte disponíveis na região e nas proximidades; e d) discutir sobre as oportunidades e restrições para influenciar nas condições de disponibilidade e acesso a práticas esportivas e recreativas na comunidade e no município.

Atualmente, nosso foco se volta para analisar as dimensões do espaço e do equipamento, visando incentivar a postura investigativa do jovem quanto à dinâmica do bairro ou território onde reside. Pretendemos fomentar uma perspectiva contemplativa e crítica sobre a experiência cotidiana dos direitos coletivos de cidadania na região, bem como dar início a um levantamento dos desafios mais significativos presentes nesse ambiente.

O momento crucial para Espaços e Equipamentos

Assim como a noção de tempo é crucial para compreendermos o lazer, é indispensável considerar, no diálogo com a juventude, o valor dos locais e instalações destinados ao lazer para que sejam verdadeiramente incorporados pelos jovens em seus momentos de ócio. O objetivo é oferecer uma vivência relevante durante o período de lazer dos jovens, para que possam, de fato, desfrutar das atividades de lazer, sendo o tempo e o espaço elementos essenciais.

Refletir sobre a concepção e a instalação de áreas e dispositivos de recreação representa um desafio, dada a diversidade de fatores envolvidos, que vão desde o estágio de planejamento até a concretização de espaços como praças, campos de futebol ou vôlei, parques infantis e jardins.

O espaço transcende a noção de um mero palco estático, pois além de ser o ambiente que abriga o desenrolar da existência humana, desempenha um papel crucial na moldagem das ações humanas. Assim, ao investigarmos a formação dos espaços em nosso contexto social, obtemos insights cruciais para a compreensão de fenômenos sociais mais intrincados, tais como as dinâmicas de trabalho vigentes, o avanço da urbanização e as diversas expressões sociais e culturais que surgem no contexto do entretenimento.

Isso implica que, com frequência, as áreas urbanas são projetadas e edificadas sem uma análise detalhada e preliminar. Por exemplo, será que os residentes locais percebem como essencial a implementação de um estacionamento veicular na área que antes era ocupada por uma vasta extensão de grama, que permitia aos vizinhos praticar futebol amador, realizar churrascos, oferecia às crianças a chance de escalar árvores e proporcionava um ambiente para brincarem? Todas essas atividades de lazer, uma vez vivenciadas com plenitude, podem vir a desaparecer em função da priorização dada aos magnatas do setor imobiliário, que veem nesses espaços oportunidades de negócio e desenvolvimento de projetos.

Os anseios dos empresários mencionados são robustos e, sem surpresas, testemunhamos a materialização de projetos de construção imobiliária e de imponentes estruturas comerciais em locais que outrora eram áreas públicas destinadas à convivência, assim como instalações voltadas para atividades esportivas e de entretenimento, que antes serviam ao deleite dos cidadãos.

A diminuição das áreas de socialização contribui para que as zonas de recreação urbanas tornem-se progressivamente escassas. Tal problemática torna-se clara ao observarmos que o aumento da densidade populacional em zonas urbanas não foi devidamente acompanhado por um incremento proporcional na infraestrutura destinada ao bem-estar coletivo. Isso resulta não apenas na escassez dessas áreas, mas também numa distribuição desequilibrada no que tange ao acesso aos espaços de lazer nos centros urbanos.

É essencial promover discussões entre os jovens sobre as consequências das intervenções governamentais, sobretudo aquelas voltadas para a democratização do entretenimento em áreas urbanas e rurais, por meio da criação de locais adequados para o desenvolvimento de atividades. Para que os indivíduos gozem de um tempo de ócio de alta qualidade, é imprescindível que existam espaços públicos disponíveis e alcançáveis, bem como a presença de pessoal capacitado e infraestrutura apropriada. Nesta perspectiva, uma das metas do Projovem é facilitar o acesso dos jovens ao esporte e ao lazer, buscando expandir a disponibilidade e o acesso a essas atividades através das políticas públicas.

Percebe-se que, para que se realize com êxito, uma das soluções envolve a continuidade do poder público em erguer e conservar áreas públicas dedicadas ao entretenimento, em consonância com os desejos e demandas dos cidadãos.

Determinados locais públicos podem se opor à dinâmica dominante do consumo e ao aproveitamento produtivo do lazer, tornando-se espaços ideais para o florescimento de expressões culturais e políticas por parte da população jovem.

Para além da busca por novas áreas, é essencial abordar a manutenção dos ambientes já estabelecidos. Frequentemente, a resposta não está na edificação de novas estruturas, mas sim na renovação e requalificação dos locais existentes, seja para restabelecer suas funções iniciais ou, mediante alterações pertinentes, para designá-los a novos usos (MARCELLINO, 2006). Em muitas cidades, é comum encontrar-se com o vandalismo, a destruição e o ato de pichar. Dentro desse panorama, os jovens podem desempenhar um papel vital, tanto na preservação quanto na revitalização desses lugares. "De que maneira?", poderia indagar o Orientador. Uma ideia seria encorajar os jovens a participarem de iniciativas coletivas onde, em lugar de pichações, eles pudessem criar grafites como uma expressão artística que captura o interesse de muitos jovens.

Com o objetivo de assegurar que a comunidade local alcance a implementação de áreas e estruturas que atendam às suas demandas por vivências enriquecedoras durante o ócio, é imprescindível o seu envolvimento ativo nas conversações sobre o Plano Diretor da cidade. Este plano é um processo colaborativo entre os cidadãos e o governo que estabelece as metas prioritárias para as aplicações dos recursos públicos na esfera municipal ou estadual, incluindo a participação ativa nas decisões do "orçamento participativo". Dessa forma, a participação no Plano Diretor torna-se fundamental para que os jovens possam pleitear a manutenção ou inclusão de espaços dedicados ao esporte e ao lazer.

A presença das associações de moradores se mostra essencial para viabilizar a verdadeira participação comunitária, bem como a atuação dos Conselhos Municipais de Orçamento e dos Conselhos de Políticas Públicas nas áreas da Saúde, Educação, Assistência Social, além do Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente.

Levando esses elementos em consideração, os jovens devem ter acesso a dados que são disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que se referem à infra-estrutura dos equipamentos e das instalações esportivas.

Conforme um estudo efetuado em 2003, oriundo da parceria entre o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Ministério do Esporte, dos 5564 municípios brasileiros, 33,8% carecem de quadras esportivas, tanto cobertas quanto ao ar livre. Tal estatística é significativa para discutir com os jovens sobre os espaços públicos urbanos que frequentemente encontram-se negligenciados e em deterioração. Diante dessa questão, o Orientador pode incentivar os jovens a investigarem: existe algum espaço público em ruínas na sua área/localidade? Quais seriam as estratégias para preservar as instalações já existentes na comunidade, evitando a necessidade de trocar completamente os equipamentos? De que maneira a manutenção desses locais poderia ser efetuada de forma colaborativa entre moradores e a administração pública? Na ausência de espaços públicos na área/localidade, quais demandas poderiam ser levantadas pelos jovens?

Após uma reflexão com o jovem acerca do valor dos espaços e recursos essenciais para aproveitar adequadamente o tempo livre, sugerimos que os jovens explorem sua capacidade investigativa no ambiente em que residem, objetivando a criação futura de iniciativas grupais tais como a realização de festivais e a organização de competições e torneios.

ATIVIDADE 1 – Cartografia do território

As conversações efetuadas sobre locais e instalações recreativas visam, como meta principal, realizar um levantamento no território para identificar quais desses espaços e recursos estão disponíveis.

O indivíduo mais novo é encorajado a examinar na sua área/localidade os locais disponíveis, as instalações, os recursos e o estado de conservação dos mesmos, bem como verificar a facilidade de acesso aos ambientes físicos. A fim de concretizar essa missão, o jovem deve seguir o seguinte guia:

ATIVIDADE 2 – Montagem do modelo físico do território

Após debaterem a relevância de áreas e instalações, os jovens deverão colaborar para idealizar um modelo tridimensional que represente o máximo aproveitamento dos espaços inutilizados em sua comunidade ou bairro. Como exemplo, eles podem focar em uma área desocupada e negligenciada que ofereça potencial para se transformar em uma arena esportiva, uma pista para skatistas, um complexo ginásico ou um complexo esportivo polivalente que incentive outras modalidades de uso pelos jovens.

4.6. JUVENTUDE E SAÚDE

No decurso deste Módulo Socioeducativo III, você, na função de Orientador, abordará com os jovens um assunto extremamente relevante para os adolescentes e jovens no Brasil: as questões de morbidade e mortalidade nesse grupo etário. Será incumbido ao Coletivo a realização de uma investigação para identificar os índices de óbitos juvenis desencadeados por elementos externos (excluindo doenças intrínsecas ao organismo) em seu território e nas proximidades, incluindo mortes no trânsito ou decorrentes de violência. Buscaremos entender as razões por trás das altas taxas de falecimentos e identificar as vítimas mais frequentes. Além disso, pretendemos analisar os fatores que contribuem para essa situação trágica. Com base nesse entendimento, nos dedicaremos a explorar alternativas que possam iniciar o processo de mitigação dessa realidade, ainda que em escala local.

1. Incidência de doenças e óbitos em jovens

O propósito desta seção é fomentar a percepção das fragilidades dos adolescentes e jovens na sua área de residência e auxiliar na ponderação acerca de oportunidades e restrições para adotar uma postura ativa no assunto.

ATIVIDADE 1 – Que tal Investigarmos?

Etapa 1: Definindo pesquisa

Ao iniciar este exercício, comunique aos participantes jovens que será formulada uma questão e eles deverão dispor de um intervalo de sessenta segundos para registrar espontaneamente quaisquer pensamentos relacionados ao tema proposto. Solicite que reflitam: "Qual é sua reação imediata ao escutar o termo pesquisa?". Uma vez esgotado o período estipulado, conduza uma partilha coletiva para que compartilhem as três ideias primárias que anotaram. Incentive que cada indivíduo selecione uma das palavras ou frases mencionadas e discorra sobre o motivo pelo qual aquela foi sua resposta ao questionamento. Ao concluir essa fase introdutória, efetue um levantamento do termo ou expressão que mais se repetiu, apresentando observações iniciais a respeito das contribuições e indague se têm algo mais a adicionar sobre a sua percepção do significado de pesquisa.

Continue o diálogo com os jovens, discutindo os múltiplos elementos que cercam a execução de uma investigação científica. O objetivo é cultivar um pensamento analítico que inicie com indagações sobre uma determinada realidade a ser desvendada, almejando encontrar estratégias para ultrapassar os desafios e obstáculos identificados.

Pesquisa consiste na exploração, exame ou escrutínio detalhado com o objetivo de esclarecer a realidade. Trata-se também da averiguação e análise metódica, visando desvendar ou determinar fatos, leis ou consistências em qualquer área do saber. Como é um procedimento de escrutínio e de procura, não existem certezas antecipadas nesse trajeto. Existem questionamentos e técnicas (métodos) para se alcançar esclarecimentos das dúvidas que são objeto de estudo. É um trajeto que comumente inclui tentativas e enganos, ao longo do qual se propõem hipóteses (explicações plausíveis para o problema estudado) e se escolhem os métodos de investigação mais apropriados para a situação específica.

Hipótese constitui uma conjectura norteadora de um inquérito, projetada para prever possíveis padrões ou traços do problema em análise. Esta suposição é valorizada tanto pela eventual comprovação desses elementos quanto pela abertura de novas trilhas exploratórias. Representa uma proposição aceita provisoriamente como base inicial para elucidar as questões examinadas.

A iniciação de uma investigação científica requer, como medida inicial, a constatação de um problema concreto, bem como o entendimento de que o estudo em questão poderá contribuir significativamente para confirmar sua presença e orientar o desenvolvimento de estratégias resolutivas. Confrontado com um dilema, é imprescindível proceder ao exame minucioso de suas propriedades e apurar suas origens, o que possibilitará, subsequentemente, a escolha e aplicação de métodos apropriados para a proposição de soluções viáveis.

O foco da nossa investigação está relacionado ao número e às circunstâncias envolvendo o falecimento de adolescentes de 15 a 19 anos no Brasil a cada ano. Sustentamos a premissa de que um segmento desses óbitos, atribuídos a causas externas, poderia ser prevenido.

Prosseguiremos agora para a apresentação de algumas estatísticas que são ao mesmo tempo expressivas e desoladoras. São dados que suscitam consternação e até mesmo vergonha, considerando que a quantidade de óbitos evitáveis de jovens no Brasil ultrapassa as fatalidades de diversos países em conflito armado. Essas informações revelam que, de certo modo, estamos imersos em uma batalha velada, uma situação que nos convoca a uma mobilização urgente em busca de mudanças. Independentemente de nossos papéis - sejamos jovens, parentes, amigos, educadores ou orientadores sociais - todos que valorizam a vida e anseiam por um futuro melhor devem agir para alterar essa realidade.

Mas, quais são esses dados afinal e como podemos acessá-los? O Ministério da Saúde, juntamente com o Sistema Único de Saúde - SUS, não só fomenta a saúde pública no Brasil, mas também é incumbido de registrar a incidência de enfermidades, lesões e óbitos. Com isso, busca-se mensurar e combater tais ocorrências, com a intenção de transformar cenários críticos como o que aqui discutimos. O Projovem Adolescente surge como um esforço para alterar essa conjuntura tanto estatística quanto socialmente (ou anti-social!). As informações concernentes à mortalidade (que consistem na quantificação dos falecimentos) são compiladas pelo SUS e podem ser consultadas em um repositório denominado DATASUS.

Outro aspecto relevante para estudo e esclarecimento dos jovens diz respeito ao valor dos dados numéricos e análises estatísticas, ferramentas cruciais para alcançar conclusões que possam ser interpretadas de forma objetiva e confrontadas com outras análises do mesmo fenômeno investigado. Observemos a maneira como um dicionário de qualidade descreve o conceito de estatística:

1. Ramo da matemática que explora os métodos de coletar, arrumar e interpretar informações acerca de um conjunto de indivíduos ou elementos, bem como as técnicas de inferir e projetar resultados com base nessas informações. (AURÉLIO, 1986, p. 717)

Após introduzir o conceito de estatística para os adolescentes, inquira acerca da compreensão deles sobre o termo apresentado; questione se persistem incertezas ou se algum deles deseja partilhar impressões surgidas com a definição. Auxilie no enriquecimento lexical dos jovens elucidando o significado de “ilação”.

Ilação consiste em uma conclusão ou compreensão alcançada após avaliar determinadas informações ou pela correlação entre diferentes conjuntos de dados. Por exemplo, ao analisarmos conjuntamente estatísticas sobre mortalidade por faixa etária e gênero, podemos observar uma prevalência de óbitos por homicídios entre homens jovens no Brasil. Ao incorporarmos elementos como classe social e raça ao estudo, torna-se evidente uma maior frequência de indivíduos negros e de baixa renda entre aqueles que são vítimas de homicídios. Essas constatações nos levam a concluir que os jovens do sexo masculino, negros e de classe socioeconômica desfavorecida, são os mais expostos ao risco de morte por homicídio, refletindo assim a persistente e profunda desigualdade social existente no país.

E quanto aos dígitos numéricos? Convém indagar a opinião dos mais novos sobre se os números são um empecilho ou um auxílio. Ouça com atenção, particularmente as razões daqueles que argumentam que os números são um obstáculo, esforçando-se para entender tais perspectivas e buscando estabelecer uma nova conexão entre eles e a ideia de que os números podem ser seus parceiros. Continue defendendo o conceito de que a ausência de números tornaria inviável a realização de análises estatísticas e que, sem estas, seria impraticável apreender a realidade com a precisão e a imparcialidade imprescindíveis para o planejamento e execução de transformações.

Retornando ao tema da investigação científica, o impulso inicial para validar um estudo se dá pelo reconhecimento e sensibilização diante de uma questão problemática, bem como pela aspiração de contribuir para seu esclarecimento e solução. Ou seja, identificado o desafio, procura-se entender suas origens e as estratégias para transcendê-las, promovendo avanços na solução da questão inicial.

Como mencionado previamente, a questão central refere-se ao número de adolescentes de 15 a 19 anos que perdem a vida todos os anos no Brasil devido a fatores externos.

Após reconhecer o dilema a ser explorado e elaborar questionamentos iniciais sobre ele, o segundo degrau em um projeto de pesquisa é a definição precisa do contexto a ser examinado (investigador, indagador). Para circunscrever a questão de modo objetivo, é imperativo segmentar o espaço onde ela emerge, assim conseguimos discernir o foco do estudo. O recorte é a especificação efetuada em um ambiente particular, estabelecendo qual segmento desse ambiente pretende-se desvendar. Compactando ainda mais a ideia, é primordial determinar quem será o alvo das informações coletadas, seja a população brasileira em geral, jovens brasileiros, uma determinada faixa etária, ambos os gêneros ou somente um, prosseguindo até que a definição do objeto de estudo esteja inequívoca.

Fase 2: Manipulação de dados do setor Saúde

Vamos analisar informações do setor da Saúde/SUS referentes a 2005 (apesar de os dados de 2007 serem provavelmente mais representativos da situação atual, o acervo mais atualizado disponível no DATASUS é de 2005), examinando a taxa de mortalidade de adolescentes entre 15 e 19 anos em todo o território brasileiro.

Este é, portanto, o foco de nossa análise: a taxa de mortalidade entre jovens brasileiros de 15 a 19 anos, conforme informações provenientes do Saúde/SUS do ano de 2005.

Caso o acesso ao DATASUS via Internet esteja indisponível, elaboramos quatro tabelas contendo os dados necessários para viabilizar o desenvolvimento da pesquisa.

Para começarmos a analisar os indicadores relativos à mortalidade de jovens e adolescentes no Brasil, devemos formular o problema como uma questão. Esta indagação nos servirá de guia para avançarmos à terceira etapa de nosso estudo: a análise, avaliação e interpretação das informações concernentes ao tema investigado.

Questão 1: Qual o principal fator de fatalidade entre os jovens nesta faixa etária?

Dentro do grupo etário que abrange os jovens de 15 a 19 anos, observou-se em 2005 um total de 18.934 óbitos (amostra analisada – Tabela 1). Destes, 13.645 foram resultado de causas externas (detalhamento 1 – Tabela 2). Isso permite inferir que a maioria esmagadora dos jovens dessa faixa etária não sucumbiu devido a enfermidades, as quais são consideradas causas internas. Identifica-se um índice superior a 72% em óbitos decorrentes de fatores externos (ou seja, para cada 100 adolescentes entre 15 a 19 anos que vieram a óbito no ano referido, 72 tiveram mortes atribuídas a causas não naturais). Ficou claro? A seguir, apresentam-se as Tabelas 1 e 2:

Prosseguindo com a análise dos dados e cifras, recomendamos seguir o fluxo de pensamento e avançar para a questão 2:

Pergunta 2: “Então, se não foi por enfermidade, de que maneira eles vieram a falecer?”

Apresente, portanto, as novas estatísticas segmentadas por gênero, que serão cruciais para esclarecer a questão em pauta. Ilustre como os números já revelam uma disparidade acentuada na taxa de mortalidade entre jovens do gênero masculino e do feminino. Prossiga para detalhar os dados concernentes aos rapazes adolescentes e jovens, em separado dos que se referem às moças. Questionamento pertinente seria o porquê dessa diferenciação na análise dos dados masculinos. Diversas justificativas são plausíveis; no entanto, o argumento que propomos para discussão com os jovens é o seguinte: os rapazes são mais suscetíveis a óbitos devido a causas externas em comparação com as meninas e adolescentes do gênero feminino, o que indica um campo mais amplo de intervenção (consoante a tabela de mortalidade por gênero, que segmenta os óbitos gerais por sexo na faixa etária em questão, ressaltando tal discrepância).

Escutar as perspectivas dos mais novos, checar a aderência de suas declarações com os fatos, e dialogar brevemente sobre os motivos de suas colocações, para posteriormente validar ou atualizar as informações fornecidas por eles: ocorrências de homicídios (em grande parte por disparos de arma de fogo) e sinistros de trânsito. Retornamos, assim, às classificações presentes no CID BR 10.

A CID BR 10 representa a Classificação Internacional Estatística de Doenças e Problemas de Saúde Relacionados. Este sistema provê uma série de códigos destinados à categorização de enfermidades, além de uma ampla gama de sinais, sintomas, condições anormais, reclamações, aspectos sociais e origens externas para lesões ou patologias. Estas categorias podem abarcar um grupo de doenças correlatas. Editada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), essa classificação é adotada globalmente para compilar dados sobre morbidade e mortalidade, influenciando sistemas de compensação financeira e o apoio a decisões médicas automatizadas. O modelo foi criado visando facilitar e fomentar o intercâmbio internacional de informações no que concerne à coleta, ao processamento, à categorização e à exibição das estatísticas mencionadas. A CID passa por revisões de forma periódica e atualmente está em sua décima versão. Conhecida como CID-10, essa edição foi elaborada especificamente para o registro de estatísticas de óbitos. A sigla BR indica que a classificação, de origem europeia, foi modificada para se adequar ao contexto brasileiro.

Vamos então analisar a tabela que evidencia a alta mortalidade entre adolescentes e jovens do sexo masculino: deste total de 18.934 mortes (população examinada), 14.935 foram de jovens homens. O que podemos inferir com esses dados? Que o índice de mortalidade no sexo masculino é significativamente maior (78,88%) em relação ao sexo feminino (21,11%). Observe na Tabela geral por gênero:

Veremos ainda que a proporção da mortalidade de adolescentes e jovens do sexo masculino em relação às do sexo feminino fica ainda mais gritante quando isolamos as mortes por causas externas (como acidentes de trânsito e agressões, entre outras): o total de mortes por causas externas na faixa pesquisada é de 13.645 (como vimos na tabela 2, recorte 1, representando – 72% do total geral de óbitos de adolescentes de ambos os sexos nesta faixa, no período levantado – ano de 2005). Quando passamos à divisão por sexo dentro do universo das mortes por causas externas na faixa etária (tabela 3, recorte 2), vemos que espantosos 88% do total de óbitos referem-se a jovens e adolescentes do sexo masculino.

Tabela 4 – (segmento 2): Óbitos de adolescentes de 15 a 19 anos por causas externas, segregados por gênero (masculino e feminino)

Óbitos em 2005 na faixa etária de 15 a 19 anos em decorrência de fatores externos

Logo somos conduzidos de volta à indagação anteriormente proposta: "Afinal, quais são as causas externas responsáveis por ceifar a vida de um número tão elevado de adolescentes e jovens homens?" De forma similar, somos instigados a propor uma interpretação para esses indicativos: aparenta ser o óbito por causas externas, onde adolescentes e jovens do gênero masculino são predominantemente as vítimas, que desestabiliza o panorama geral de mortalidade nesse segmento etário (15 a 19 anos). Seria essa a realidade? Os dados indicam que sim.

Refinamos ainda mais nossa investigação, detalhando nosso terceiro recorte analítico, e identificamos que, das 13.645 fatalidades resultantes de causas externas, 7.038 (equivalente a 51,58%) foram ocasionadas por agressões, e 2.377 (representando 17,42%) por acidentes de trânsito, de acordo com a tabela 5 apresentada a seguir, que também revela uma causa de óbito entre jovens pouco conhecida pelo público geral.

Prezado orientador, é essencial esclarecer que o escopo da nossa discussão não abrange a juventude de outros países, tampouco faz referência ao público idoso. Estamos, de fato, nos referindo especificamente a nós, aos jovens que se fazem presentes neste Coletivo, neste exato momento. O foco recai sobre este grupo que presenciou um número alarmante de falecimentos concretizados e documentados no ano de 2005.

A partir de agora, sugiro que integrem a pesquisa numérica e quantitativa que vem sendo desenvolvida em colaboração com o Coletivo a um estudo qualitativo, que tem um foco menor em dados estatísticos e mais em compreender as particularidades dos indivíduos que se destacam nas estatísticas. Interessem-se por seus nomes e trajetórias pessoais. Incentivem os jovens a compartilhar experiências e memórias ligadas ao tema da pesquisa em curso. Por exemplo, iniciar um diálogo com os jovens pode ser assim: "Vamos lá, pessoal! Vamos valer-nos do nosso Coletivo para realizar esta investigação. Quem aqui tem alguma história para compartilhar que exemplifique os episódios de mortalidade mencionados ou que aborde o aborto inseguro?" Na busca por uma compreensão mais aprofundada do assunto, questione os jovens: "Mas, qual seria a razão para isso? Quais fatores contribuem para a ocorrência desse fenômeno tão marcante?"

“Quais hipóteses podemos formular a respeito dos eventos observados anteriormente? De que modo é possível verificar essas suposições?” São outros desafios destinados aos jovens que podem ser apresentados em uma ocasião posterior, a critério do Orientador, conforme julgar mais conveniente.

Sugiro que se agrupem em equipes, como um desafio, para tentarem coletar informações tais como:

• Quais índices representam a mortalidade na faixa etária de 15 a 19 anos na cidade onde residimos? (se houver múltiplos municípios, cada conjunto de pessoas será responsável por um município distinto);

Qual enfermidade tem sido a principal causa de óbitos em nossas localidades? Um desafio ainda mais complexo: por meio do uso do DATASUS, qual seria a patologia prevalente em nossa área geográfica (é possível tentar calcular a média para os municípios onde residem os jovens)?

• Quais precauções podem ser tomadas para prevenção? Para acessar informações recentes, que estratégias devem ser adotadas? Ao adquirir os dados mais atuais, é importante analisar as tendências de mortalidade na área de interesse, seja um município ou um grupo deles. Identifique para que direção indicam essas tendências.




Este artigo pertence ao Curso de Orientador Social Faça o Curso completo!!
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