Compreenda os Papéis dos Ingredientes para o Bolo Perfeito
Alguns conhecimentos técnicos podem significativamente aprimorar suas habilidades de fazer um bolo perfeito, solucionar eventuais contratempos ou compreender porque um método não está produzindo o resultado pretendido. Primeiramente, é vital reconhecer que a qualidade dos ingredientes escolhidos é crucial para o sucesso de qualquer receita, seja ela doce ou salgada. Frequentemente, replicamos receitas, seguindo precisamente as instruções e usando as quantidades indicadas, porém obtemos resultados divergentes. Isso ocorre devido à variação na qualidade dos ingredientes de marca para marca. Portanto, sempre dê preferência para ingredientes de alta qualidade. Ademais, é essencial compreender o papel de cada ingrediente na elaboração do bolo. Este conhecimento pode auxiliar a alcançar o resultado desejado, ou até mesmo superar suas expectativas.
Farinha de Trigo
Ao selecionar a farinha de trigo, preste atenção ao teor proteico do produto. Farinhas com baixo teor de proteínas são ideais para conferir suavidade aos bolos. Por outro lado, aquelas ricas em proteínas são excelentes para formar a estrutura dos pães. As proteínas responsáveis pela formação do glúten são as gliadinas e gluteninas, presentes na farinha. Em um ambiente úmido, elas desenvolvem elasticidade e retração através de movimento mecânico (como quando se mistura a massa, por exemplo). Portanto, se você misturar excessivamente uma massa após a inclusão da farinha, ela pode se tornar pesada, resultando em um bolo mais rígido e seco.
A adição separada de ingredientes secos e líquidos em uma receita de bolo tem como meta minimizar a ação mecânica que seria exigida para tornar a massa uniforme. Desse modo, se todos os elementos já estiverem previamente mesclados, a única necessidade será de agitar para unir os ingredientes.
A prática de peneirar a farinha é crucial para favorecer a aeração, além de desfazer os aglomerados que se criam. Este procedimento permite uma hidratação mais eficiente da farinha, resultando em uma mescla da massa de maneira mais ágil.
Tenha cautela com as rápidas rotações da batedeira ao misturar a farinha. O truque é incorporá-la gradualmente e utilizar uma espátula para mexer, garantindo assim, a suavidade do bolo.
Farinha de trigo com ou sem fermento?
O mais recomendado é escolher ingredientes "puros", isto é, minimamente modificados. Comumente, as receitas solicitam farinha não fermentada, manteiga não salgada, e assim por diante. Isso ocorre devido à incerteza quanto à qualidade e à exatidão das quantidades desses extras nos produtos.
Água
A água desempenha um papel crucial na modulação da consistência da massa e na formação do glúten, que é responsável por reter o gás carbônico gerado pelo fermento em pó, influenciando assim o volume da preparação final. É igualmente essencial para a farinha de trigo desenvolver uma estrutura apropriada. Ademais, a água potencializa o efeito suavizante do açúcar. Ela atua tanto no suavizamento quanto no endurecimento do bolo. Por último, durante o processo de cozimento, a água cria uma pressão de vapor que auxilia no controle do volume do bolo.
Açúcar
Não há necessidade de enfatizar o papel crucial do açúcar no mundo da confeitaria, certo? Este componente é imprescindível, todavia, é relevante entender as variedades de açúcar disponíveis. A escolha correta do açúcar é essencial para alcançar o nível desejado de dulçor, textura e tonalidade em suas preparações, considerando que cada tipo de açúcar apresenta um gosto, cor, grau de doçura e perfil nutricional distintos.
No preparo de um bolo, a principal responsabilidade do açúcar é proporcionar suavidade à farinha de trigo, isto é, este ingrediente funciona como um agente amaciador. Além do seu efeito adoçante, o açúcar também reduz o ponto de caramelização da massa, o que permite que a crosta do bolo obtenha a cor apropriada a uma temperatura inferior. O açúcar também possui a habilidade de reter a umidade remanescente no bolo após assá-lo, deixando-o mais coeso e saboroso por um período mais longo de tempo. Também atua como lubrificante na massa, deixando-a mais fluida.
É bem provável que você já tenha observado alguém coando o açúcar antes de incorporá-lo na receita do bolo. A razão para isso é evitar que os grãos maiores de açúcar, que não se dissolvem facilmente, se acumulem no fundo da forma, causando uma caramelização desequilibrada e excessiva. Ademais de coar, outra sugestão útil é misturar o açúcar com a manteiga no começo da elaboração, para facilitar sua dissolução.
Mais dicas:
→ o açúcar demerara mantém mais eficientemente a umidade no preparo da massa e apresenta um gosto mais marcante.
→ o açúcar refinado se dissolve com mais facilidade, entretanto, não proporciona uma estruturação tão eficaz para a massa como o açúcar cristal.
→ O açúcar mascavo destaca-se por ser o que apresenta o maior teor de nutrientes, dado que é o menos refinado. Seu gosto remete ao do melado de cana e é uma ótima escolha para realçar o sabor do chocolate em receitas de bolo.
Tipos de Açúcar
A glicose, também referida como dextrose, pode ser localizada em diversas fontes, como frutas, vegetais, mel, xarope de milho e no açúcar invertido.
Frutose: é um açúcar extraído de frutas e legumes.
Maltose: açúcar encontrado no malte
Lactose: açúcar encontrado no leite
Sucrose: é fabricada comercialmente através da cana-de-açúcar e do açúcar extraído da beterraba.
E desses tipos de açúcar, produzimos os produtos abaixo:
Açúcar de Confeiteiro: se trata de um tipo de açúcar refinado que possui uma textura particularmente fina, quase semelhante a mini cristais após passar por um processo de peneiramento. Devido à presença desses pequenos cristais, este açúcar tende a aglomerar-se facilmente, o que requer que seja sempre peneirado antes de ser utilizado. O açúcar de confeiteiro é ideal para a produção de glacês, assim como para outras receitas que demandam uma textura mais suave e sutil.
O Açúcar Impalpável é uma combinação de açúcar de confeiteiro e amido, que pode ser derivado de arroz, milho e semelhantes. Por conta da proporção de amido, esse tipo de açúcar é menos doce em comparação ao açúcar de confeiteiro, e também tende a não formar "grumos". Sabe aquela chuva delicada de açúcar que frequentemente adorna bolos e outros doces? É o Açúcar Impalpável em ação. É um ingrediente ideal para fazer pasta americana e para preparos que requerem menor doçura, fornecendo uma textura suave. Existe uma confusão comum entre o açúcar impalpável e o açúcar de confeiteiro, que ocorre pois nos EUA são designados pelo mesmo nome. No entanto, no Brasil, a diferenciação é feita através da presença ou ausência de amido.
Açúcar Cristal: este açúcar apresenta cristais de maior tamanho, que demandam mais tempo para serem dissolvidos. Ao contrário do açúcar refinado, o processo de refinamento do açúcar cristal remove 90% de seus nutrientes, enquanto o refinado tem 100% de seus nutrientes retirados.
O Açúcar Refinado é deficiente em nutrientes, uma vez que passa por um processo de refinamento que inclui a adição de enxofre para obter aquela cor branca intensa. É um tipo de açúcar que fornece calorias sem valor nutricional.
Açúcar mascavo: ainda que não seja submetido ao mesmo nível de refinamento que o açúcar branco ou refinado, o açúcar mascavo é, contudo, um tipo de açúcar refinado. No entanto, ao contrário dos demais, apresenta 90% de "pureza". Este é o que contém maior quantidade de nutrientes, visto que estes são preservados e apenas são eliminados no processo de lavagem e descoloração. Em comparação com os outros, esta é a escolha de maior valor nutricional.
Açúcar demerara: este tipo de açúcar é submetido a um processo de refino suave, sem o acréscimo de aditivos, mantendo assim a sua cor castanho claro e os seus nutrientes em níveis próximos aos do açúcar mascavo. Ele pode ser localizado em grãos finos ou mais grossos.
A frutose é um tipo de açúcar que excede em aproximadamente 30 vezes a doçura do açúcar processado. Sua extração é feita predominantemente de frutas e também do milho. A produção da frutose não requer a adição de quaisquer aditivos. No entanto, similarmente ao açúcar refinado, é desprovida de vitaminas.
O Açúcar Invertido é um tipo de açúcar que combina até três diferentes tipos de adoçantes: glicose, frutose e sacarose. Ele tem como principal propósito prevenir a cristalização em alimentos. Pode não ser tão prático localizá-lo, no entanto, uma alternativa viável é o uso do mel, que funciona como uma forma natural de açúcar invertido. Tenha cautela com o paladar, pois a quantidade utilizada pode influenciar a sua receita. A denominação 'invertido' se deve à molécula deste açúcar ser invertida, ou melhor, a formação molecular da glicose é modificada por meio da hidrólise, produzindo assim, o açúcar invertido.
Açúcar orgânico: este tipo de açúcar é produzido sem o uso de qualquer aditivo químico durante seu processamento, mantendo a mesma capacidade de adoçar que o açúcar refinado. A metodologia para sua produção é a mais natural possível, o que confere a este açúcar uma coloração mais dourada e grãos de maior tamanho.
Leite
Componentes sólidos do leite: São responsáveis por conferir consistência e forma ao bolo, além de atuarem como agentes que mantêm a umidade e contribuem para o aroma característico. Esses componentes possuem funções similares às proteínas presentes na farinha, proporcionando firmeza. Além disso, a lactose presente no leite auxilia no controle da coloração da crosta do bolo.
Conteúdo de água no leite: A quantidade de água presente no leite pode variar, dependendo da sua forma, seja em pó ou no estado natural. As funções desempenhadas por este elemento no bolo incluem: aprimorar (em proporções corretas) as características organolépticas; atuar como um agente umectante e associar-se a outros componentes da receita.
Sal
O seu principal objetivo é ressaltar o gosto dos outros ingredientes adicionados. Atua como um regulador, caso o bolo esteja excessivamente doce. É preferível intensificar a quantidade de sal em uma receita do que reduzir a de açúcar, que é imprescindível para manter a umidade. Adicionalmente, o sal tem a função de abaixar a temperatura de caramelização da massa do bolo, favorecendo uma coloração atraente da crosta.
Ovo
O ovo contribui para a consistência do bolo, além de fornecer água, aroma, sabor e cor. Ao empregar uma farinha de alta qualidade, torna-se crucial conhecer o nível de umidade, gordura e sólidos presentes nos ovos; caso esteja usando uma farinha de menor qualidade, será necessário um maior número de ovos. O grau de sólidos nos ovos influencia o resultado final do produto. A clara, para ser batida, precisa estar isenta de gema ou gordura, uma vez que até uma pequena quantidade, a partir de 0,1%, pode comprometer a qualidade.
Gordura
A função da gordura é potencializar a absorção de ar na mistura através do processo de batimento. Notavelmente, esse ar incorporado possui um maior efeito suavizante do que a própria gordura. Para obter o máximo desempenho das gorduras em uso, a faixa de temperatura ideal situa-se entre 20 e 23°C. É dentro deste intervalo de temperatura que a habilidade das gorduras de reter ar atinge seu ápice.
A aplicação de gordura emulsificada contribui para a formação de uma emulsão, especialmente em condições de baixa temperatura, e permite a adição de uma quantidade acrescida de água em bolos. Esta prática resulta em uma melhoria qualitativa no sabor do produto final. A própria gordura também desempenha um papel na retenção de umidade, prolongando, desta forma, a vida útil dos bolos.
Conforme a fórmula culinária, podemos empregar manteiga, margarina para bolo, nata ou azeite.
Óleo ou Manteiga?
Os bolos preparados com óleo são ideais para serem armazenados em condições refrigeradas, portanto, se sua sobremesa necessitar receber um recheio que requer refrigeração, é melhor não optar por bolos feitos com manteiga. Quando exposta ao frio, a manteiga endurece, resultando em um bolo com textura mais firme.
Agentes de Crescimento
Fermento químico, bicarbonato de sódio e claras em neve
O bicarbonato de sódio é um componente fundamental na formulação de fermentos químicos. Incorporar bicarbonato a uma massa de bolo que já contém fermento eleva as reações químicas do composto. No decorrer do processo de cozimento do bolo, o bicarbonato e o fermento promovem a formação de bolhas através de reações químicas, que são ampliadas pela ação do calor. Este é o processo que permite o crescimento do bolo! Entretanto, esta reação química reduz a acidez da massa, tornando-a alcalina, o que pode resultar em um paladar metálico. Algumas variedades de bolos de chocolate de tonalidade escura, por exemplo, podem adquirir um sabor similar ao de ferro, o que é um indicativo de excesso de fermento ou bicarbonato. Este efeito indesejável é mais propenso a ocorrer em bolos de chocolate, visto que este ingrediente é usualmente alcalinizado previamente pela indústria (a maioria, mas não todos). Bolos de sabor mais cítrico, que incorporam suco de frutas ácidas (como laranja, limão, maracujá), são menos suscetíveis a desenvolver o sabor metálico, pois a massa não possui acidez extra. Contudo, a quantidade excessiva de bicarbonato ou fermento pode prejudicar o sabor cítrico pretendido.
Se deseja ter bolos mais macios e com uma textura mais leve, o truque é incorporar claras batidas em neve ao término do preparo. Ao contrário do fermento e do bicarbonato de sódio, as claras em neve não alteram o gosto da massa de forma química.
Um conselho valioso é colocar o bolo no forno imediatamente. O pré-aquecimento é o segredo para um bolo perfeitamente preparado, pois assim que a mistura estiver pronta para ser assada, o fermento químico inicia sua ação e as claras batidas em neve preservam sua estrutura.
Os bolos podem crescer devido à ação de três fatores:
— Incorporação de ar durante a mistura — crescimento mecânico;
— Crescimento por agente químico;
— Pressão de vapor criada no forno.
O modo de expansão é determinado pelo tipo de bolo, levando em consideração a sua opulência, consistência do preparado e a temperatura.
Nos produtos que passam por um processo de expansão, a origem do gás CO2 é o bicarbonato de amônio ou o bicarbonato de sódio.
Recomenda-se o uso do bicarbonato de amônio para produtos que são submetidos à assadura até atingir um baixo nível de umidade. Isso ocorre porque, se o conteúdo hídrico for elevado, o aroma ou o sabor de amônia pode persistir.
O bicarbonato de sódio alcançou notoriedade como um produtor de gás devido ao seu preço acessível, manuseio simples e por ser inodoro, ou seja, não interfere no sabor do produto final. Este componente libera dióxido de carbono (o responsável pelo crescimento) quando aquecido. O uso isolado do bicarbonato de sódio requer uma temperatura bastante elevada para sua decomposição. Devido a isso, ocorre tardiamente durante o processo de cozimento, implicando na necessidade de um sal ácido para reagir com ele, gerando dióxido de carbono e um resíduo comestível. O ácido utilizado deve ser inofensivo, de manuseio fácil, apresentar-se na forma sólida e não prejudicar o glúten. Juntamente com o bicarbonato, alguns ingredientes podem ser incorporados, como: suco de limão, creme de leite, sorgo, coalhada, etc. No entanto, essas combinações não são empregadas comercialmente, devido à complexidade de alcançar resultados padronizados.
Os compostos químicos, carbonato de amônio e bicarbonato de amônio, são empregados como promotores de crescimento na culinária. Eles são ideais para a elaboração de biscoitos e bolachas, contribuindo para sua leveza e crocância. Esses ingredientes são classificados como fermentos de ação rápida e, portanto, não são recomendados para o preparo de bolos, pois não proporcionam o crescimento adequado.
O fermento em pó atua como um agente levedante e, de acordo com a ANVISA, é definido como: "um composto oriundo de substância ou combinação de substâncias químicas que, sob influência do calor e/ou umidade, gera liberação gasosa capaz de expandir massas criadas com farinhas, amidos ou féculas, incrementando seu volume e a porosidade. Os fermentos químicos são empregados no preparo de variedades de pães, broas, biscoitos, bolachas e outros produtos similares de confeitaria."
O agente levedante químico é constituído por uma base que inclui bicarbonato, amido e sais ácidos tais como tartaratos, fosfatos e sulfatos de potássio (K), cálcio (Ca), sódio (Na) e alumínio (Al). Quando expostos à água e calor, estes componentes reagem produzindo majoritariamente dióxido de carbono.